Dono da maior rede de ensino de idiomas do Brasil estuda mandarim, leu mais de 100 livros e tem um iPhone – mas já está pensando em trocar
Quando uma editora procurou Carlos Martins Wizard para lançar uma biografia sobre sua vida, o empresário não quis. Segundo ele, biografia é coisa que se escreve sobre gente morta ou que morre três meses depois que o livro é publicado. O jeito foi lançar "Sonhos não têm limites", livro com fatos importantes da trajetória do professor de inglês que virou dono da maior companhia de ensino de idiomas no país, o Grupo Multi.
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"Em algumas páginas, os leitores irão rir; em outras, irão chorar. E ainda existem aquelas em que eles irão rir e chorar ao mesmo tempo", conta Wizard – que em 2000 acrescentou ao sobrenome a primeira das sete marcas que hoje estão sob seu comando.
Em entrevista à EXAME.com, o empresário falou sobre sua rotina, revelou seus cinco passos para o sucesso e deu conselhos ao empreendedor iniciante. Com conhecimento de causa, Wizard garante: não existe dinheiro fácil.
EXAME.com: Existe dinheiro fácil?
Wizard: Não existe fórmula mágica para ficar rico do dia para noite. Acredito que o caminho para o sucesso passa pela consciência de que o ponto principal de qualquer negócio é a satisfação do cliente. É assim que trabalhamos no Grupo Multi, que tem a missão de atender com prontidão, eficiência e alegria.
EXAME.com: Que idiomas são importantes para a vida profissional hoje?
Wizard: Considero o mandarim a segunda língua estrangeira mais importante, depois do inglês. Estudo o idioma há dois anos e, após essa entrevista, assistirei a mais uma aula com a Serena, minha professora. Além disso, recomendo que o brasileiro invista mais tempo no espanhol. Pensamos que é uma língua fácil, em função das semelhanças com o português. Porém, as diferenças existem e é importante conhecê-las.
EXAME.com: Qual é hoje sua rotina dentro do Grupo Multi?
Wizard: É difícil eu ter uma rotina única, mas tenho cinco atividades principais. Todo mês, me reúno com o conselho do grupo, do qual fazem parte membros do fundo de investimentos Kinea e conselheiros independentes. Além disso, há as reuniões da presidência, com meus filhos e o CEO do Multi, Giovanni Giovannelli. Busco também participar de sessões de treinamento com franqueados e membros da equipe e já percorri mais de 15 estados dando palestras. Por fim, me dedico ao contato com a imprensa, apresentando nossas metas e objetivos a TVs, rádios, jornais e revistas.
Wizard: Venho de uma família de sete irmãos e hoje, administro sete marcas distintas no Grupo Multi. A relação é parecida: a atenção tem de ser igual, com equilíbrio e justiça na valorização de cada uma delas. Penso sempre que não são só produtos, mas pessoas. Para cada franquia, não tenho um cliente, mas um sócio – com quem tenho obrigações, deveres. Deve existir uma lealdade mútua.
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EXAME.com: Que pessoas lhe servem de referência na condução da empresa?
Wizard: Não identifico uma única pessoa como guru ou mentor, mas tive uma sequência de leituras que me ajudou muito profissionalmente. Li mais de 100 livros de assuntos como liderança, sucesso e motivação. Hoje, entendo que eles representam uma grande bagagem, que me ajudou em minhas realizações. Às vezes, lia o livro inteiro para extrair um pensamento; Às vezes, achava ruim e desistia no primeiro capítulo. Costumo chamar essas obras de minha biblioteca pessoal do sucesso.
EXAME.com: E a que valores você atribui o seu sucesso?
Wizard: O Grupo Multi tem crescido tanto organicamente quanto por meio de aquisições. Temos um perfil expansionista e ficamos de olho nas oportunidades do mercado. Em alguns casos, demoramos mais de um ano até fecharmos uma aquisição. Para mim, o sucesso é um ciclo de 5 passos. O primeiro deles é a estratégia, quando você elabora o objetivo que pretende alcançar. Depois, é hora de partir para o plano de ação. O terceiro passo é a execução. Ela antecede a avaliação do projeto, que é uma preparação para a correção de rumos. Essa última etapa influencia na elaboração de uma nova estratégia, que dá prosseguimento ao ciclo. A Apple é um exemplo. Eu mesmo tenho um iPhone e já começo a me questionar se vale a pena ter um produto como esse. Algum tempo atrás, quem diria que ela seria intimidada por uma concorrente? Insistir na estratégia errada foi um arrogância da parte deles. A concorrência apostou em inovação e conquistou mais clientes.
EXAME.com: Nesse sentido, que época do seu negócio foi a mais difícil?
Wizard: Acredito que os cinco primeiros anos foram a época mais desafiadora do negócio. O Wizard abriu as portas em 1987, durante o governo Sarney, que lançava um novo plano econômico a cada seis meses. A inflação mensal chegava a 70%, 80%. Se você ganhava 50 reais hoje, amanhã já não compraria as mesmas coisas com aquela quantia. Depois, houve ainda o confisco do Collor. De repente, várias empresas se viram com as contas zeradas e faliram. Com o Plano Real, nossa economia passou a ter mais fôlego e tornou-se possível planejar negócios e prever situações.
EXAME.com: Em que medida sua ligação com a religião mórmon o ajudou a superar esses desafios?
Wizard: Sou defensor de que, independente da denominação, as pessoas tenham fé em Deus. Isso gera mais confiança, capacidade de concentração e auto-estima. Pessoas sem fé têm mais dificuldade em vencer problemas, manter relacionamentos e ter disciplina e perseverança. Dentro da igreja mórmon, somos orientados no sentido de buscar o mais elevado grau de instrução possível. Existe até um fundo internacional para isso, que hoje atende 15 mil estudantes brasileiros. Sei que minha trajetória é uma inspiração para eles.
EXAME.com: Que conselho o senhor daria a um empreendedor iniciante hoje?
Wizard: O Brasil é um país pobre em serviços. Se o novo empreendedor focar em qualidade, isso será um diferencial na conquista dos consumidores mais exigentes, que tendem a se fidelizar e fortalecer o negócio.